Pensa Tudo!: Crônica ao Tabagismo

17 de agosto de 2011

Crônica ao Tabagismo


Ligo o rádio para ouvir música. Mas ouço um locutor falando sobre a pirataria de cigarros. Ele diz, indignado, o quanto esses cigarros de origem duvidosa são nocivos à saúde e à economia do país. “A Souza Cruz é contra a pirataria.”

Dois pensamentos me ocorrem de estalo. O primeiro, óbvio, que a Britsh and American Tobacco, dona da Souza Cruz, fabrica cigarro em quase todo canto do planeta, menos no Paraguai, de onde vem o cigarro pirateado. Ou seja, no Paraguai, faturar, que é bom, nada. Segundo pensamento: o que se passa pela cabeça dos caras da Souza Cruz ao decidir veicular um comercial tão cínico quanto esse? Caras de pau, pura e simplesmente, acho que não são. Burros, também não. Para falar de corda em casa de enforcado, devem elucubrar algo assim: “Nós fabricamos cigarro e nosso cigarro, reconhecemos, adoece e mata milhões de brasileiros, mas nós empregamos uma porrada de gente e pagamos uma cacetada de impostos, enquanto eles, os piratas, não empregam ninguém por aqui nem pagam nada de imposto”. Ou seja, “a gente mata, mas paga”.

Cigarro dá câncer de tudo: boca, faringe, esôfago, cordas vocais, pulmão, estômago, rim, bexiga e por aí vai, além de enfisema pulmonar e brochura crônica. Mais de 200 mil brasileiros morrem a cada ano de doenças diretamente relacionadas ao cigarro e milhões padecem de doenças crônicas. Isso custa ao país zilhões de reais a mais do que arrecadamos com os impostos da indústria e do comércio de cigarro.

A justiça americana sentenciou os fabricantes a abrirem suas caixas-pretas. Entre outras coisas, diziam os relatórios secretos: os jovens são “reservas de reabastecimento”; substituirão os velhos que deixam de fumar ou morrem. “À medida que os jovens entre 14 e 24 anos amadurecem, se tornam parte do mercado futuro, pelo menos pelos próximos 25 anos” (R. J. Reynolds Tobacco). “Atingir os jovens tem um custo maior, mas é mais eficiente, porque eles têm influência sobre os outros de sua idade e têm maior probabilidade de se tornarem fiéis à marca” (Philip Morris).

Jovens e mulheres são públicos-alvo prioritários. Estratégias de marketing e produtos, com embalagens e sabores especiais, são dedicados a nós mulheres e jovens. E nós estamos fumando adoidado. As coroas lideram o grupo dos que não deixam de fumar. E as jovens são majoritárias entre os que começam. Num anúncio antitabagista que vi outro dia, o  slogan era dedicado a nós: “Mulher. Você merece algo melhor”. Alguma dúvida? Mas não estamos nem aí. Deve ser em solidariedade aos homens. “Já que eles estão morrendo, vamos morrer também”.

Muito se fala e pouco se sabe sobre a verdadeira caixa-preta dos fabricantes. Dizem que os cigarros light têm, de fato, baixos teores de alcatrão e nicotina. No entanto, entre suas cinco mil substâncias nocivas, uma tem como função aumentar a absorção de nicotina. Por conseguinte, a dependência.

 O locutor encerra o comercial com um slogan e eu encerro meus pensamentos com um solilóquio, completando o slogan: “Souza Cruz, há cinquenta anos crescendo com o Brasil.” E matando os brasileiros.


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